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Artigo | O leão e a barata no mundo globalizado

Muitos nos criticam pelo fato de sermos contra o consumismo desenfreado e a globalização desumana. Vamos por partes: já escrevi, muito e diversas vezes, aqui e nos artigos de jornais, desde 1982, contra o neoliberalismo desumano, que é um regime brutal, por que parte da constatação de que todos nós, em sendo desiguais pela natureza e potencialidades, assim devem continuar: os mais fortes e competentes aumentando a força e a competência e os mais fracos se tornando mais fracos e incompetentes. A valorização de uma “meritocracia” em que apenas diplomas e PhDs em Chicago e Boston definem quem é bem melhor do que o outro; numa supervalorização do currículo acadêmico em detrimento do currículo de engajamento social ou experiência administrativa construída. Ou seja, o homem com vários anos de empresa hoje é considerado um “dinossauro” pendente de reciclagem.

Para entender esta ordem natural das coisas não seria necessário o Estado, a não ser as forças de segurança, para manter a ordem, e o Poder Judiciário para julgar as desavenças entre pessoas e empresas. Quanto à globalização, a perversidade decorre de um ponto de partida inverso. Globalizamos a pobreza e o atraso e não somente a alta tecnologia e os progressos da ciência.  A globalização, portanto, pressupõe que todos os países, de Joen Biden a Maduro, todas as nações e povos são exatamente iguais. Em oportunidades e opções de desenvolvimento. Celso Furtado já escrevia teses contrariando este pensamento. Furtado dizia que “todas as nações não são iguais, não estão em idêntico estágio cultural e também são diferentes em tecnologia e desenvolvimento humano”.

Os holandeses, espanhóis e portugueses que chegaram ao Brasil globalizaram nossos índios (já lembrava Darcy Ribeiro), impondo-lhes a golpe de espada e sob o símbolo da Cruz, uma religião complicada, que tinha a Santíssima Trindade, a transubstanciação da carne, os 365 artigos do Concílio de Nicéia.

Quando perceberam que não conseguiam escravizar os índios, nativos importaram escravos negros da África em um movimento violento e que faria Nossa Senhora desaprovar, tal foi a humilhação e a vergonha com o respeito à dignidade da pessoa humana. Os escravos eram tratados como animais. Sem alma, portanto. Laurentino Gomes explica bem isto no livro: “Escravidão”.  Os colonizadores europeus trouxeram soluções prontas, adiantadíssimas para os anos 1500 a 1808. Representavam o progresso do mundo globalizado pelas cruzadas e os reis ibéricos.  A truculência não foi apenas católica-romana e ibérica. Nos Estados Unidos da América, posterior a 1776, os pioneiros que viajaram no “Mayflower” fizeram o mesmo, e produziram o maior genocídio da história. Ficou por conta desses piedosos “fathers”, que desejavam viver de acordo com os ensinamentos protestantes de Lutero e Calvino, e em comum acordo com as leis de Deus e da santa Bíblia, o quase extermínio dos índios nativos, primeiros donos do continente norte-americano.

Portanto leitores, a tentativa de globalizar o novo mundo é velha. Se todos os povos da terra estivessem no mesmo estágio espiritual, técnico e econômico, a globalização não seria um discurso: seria uma decorrência.

A globalização é perversa porque considera que o leão e a barata estão em igualdade de condições perante a selva da vida.

Gustavo Mameluque
Jornalista
Membro do Instituto histórico e geográfico de Montes Claros
Colunista do montesclaros.com
Gestor Fazendário em Montes Claros-MG

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