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Artigo | Vinte anos de uma tragédia humana

Quando me propus a atender o convite de Hélio Machado no ano passado para substituí-lo durante três meses, comuniquei ao meu Editor que falaria de Cinema, livros, tv e fatos do cotidiano, respeitando o bom jornalismo e a diversidade atual da nossa sociedade. Tentar esclarecer algumas questões polêmicas e denunciar a praga das Fake News. Portanto, hoje falarei de um livro. Devemos ler pelo menos um livro por mês, já dizia Gabriel Garcia Marques tempos atrás.

Falaremos do escritor mexicano Octávio Paz e da sua brilhante obra “o labirinto da solidão e post-scriptum”, tradução de Eliane Zagury, Rio de Janeiro: Paz e Terra. Resumidamente, a questão deste livro é saber o que faz um país ser o país. Ou seja, valorizar sua história e sua tradição.  Em outros termos é como discutir os caminhos que tornam uma sociedade diferente e única, muito embora esteja, como outros sistemas políticos, igualmente submetida a certos fatores sociais, políticos e econômicos comuns. Estou, pois, de acordo com o mestre mexicano, Paz, e seu compadre o escritor, Juan Rulfo, do clássico Pedro Páramo e “ O Planalto em Chamas”, quando ambos, fazendo face a um problema de uma divisão de nação, em que a dicotomia esquerda-direita, ricos-pobres, camisados-descamisado, com teto e sem teto levam a uma não produção quando estas diferenças se acentuam e o sentimento de nação se esvai. A diferença existe e é importante. No entanto, ela jamais pode ser a única força motriz de um povo desenvolvido. Ainda mais quando atravessamos uma pandemia jamais vista que aniquilou próximo de seiscentas mil vidas e também em um cenário de inflação galopante. Neste momento, buscar os extremos é um suicídio para qualquer cidadão ou político que se julgue responsável.

Chegou a hora de “baixar a guarda” e esquecer por algum momento as eleições de 2022. Cuidar dos desempregados e das famílias que passam fome. Concluir a vacinação de toda a população.  Acolher os milhares de microempreendedores que perderam empresas e sonhos por conta de uma situação de crise mundial, que não foi produzida aqui no Brasil, mas que caiu em todo o planeta como uma bomba de Hiroshima e Nagasaki.  Caiu sobre nós como os dois aviões caíram nas Torres Gêmeas do World Trade Center no dia 11 de setembro. Data que nos mostra o quanto a vida é sem valor para algumas seitas e “religiões” que matam e humilham em nome de Deus.

Mas retornando a leitura de “o labirinto da solidão “o autor bem nos lembra que “alguns acham que toda as diferenças entre os norte-americanos e nós são econômicas. Isto é, que eles são ricos e que nós somos pobres, que nasceram na democracia, no capitalismo, na revolução industrial e nós crescemos na contrarreforma, no monopólio e no feudalismo. Por mais profunda e determinante que seja a influência do sistema de produção na crise da cultura, recuso-me a acreditar que bastará possuirmos uma indústria pesada para vivermos livres de qualquer imperialismo econômico, para que desapareçam as nossas distinções…)”. Aqui o mexicano coloca uma pergunta capital. “mas para quê procurar na história uma resposta que só nós podemos dar? Se somos nós que sentimos diferentes, o que nos faz diferentes e em que consistem estas diferenças?  (1976:23). E finaliza sua obra com uma lição maravilhosa: “ O que os separa não deve destruir o que nos une !”

Que esta lição mexicana seja nosso alento neste 11 de setembro de 2021 para que a tragédia de Nova York e também a tragédia do Afeganistão, em que crianças, mulheres e idosos perderam suas vidas não se repitam; pois sempre o amor sobreviverá ao ódio e a intolerância fanática de alguns poucos.

Gustavo Maluque.
Jornalista. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.
Gestor Fazendário e Diretor Jurídico do Sinfazfisco-MG.
Colunista do site montesclaros.com e titular do blog mameluquegustavo.blogspot.com

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