O jornal O Tempo divulgou no último sábado (23) uma entrevista com o Jornalista e Comentarista Político Bob Fernandes, que participou de um evento promovido pelo SINFFAZFISCO, Intendência da CAMG e SEPLAG, na Cidade Administrativa de Minas Gerais, ministrando a palestra “A Mídia e O Poder” para mais de 400 servidores públicos estaduais.
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
“Roberto Fernandes de Souza, mais conhecido como Bob Fernandes, é jornalista. Cobriu seis campanhas presidenciais no Brasil. Já fora, nos EUA, acompanhou a campanha Clinton vs Bush; as eleições de 1992 em Angola; o referendo na Venezuela em 2004, a reeleição de Hugo Chávez em 2006 e dezenas de eleições. Atualmente é comentarista de política na TV Gazeta São Paulo. Recentemente esteve em BH para palestra no SINFFAZFISCO.
O que agrega a palestra a “Mídia e o Poder”?
A ideia é conversar em uma época em que tem pouca gente conversando. A importância que tem ou deixa de ter o jornalismo, o conteúdo numa hora como essa. Qual a responsabilidade em meio essa crise toda? Onde é que ele está falhando? Onde é que não está falhando? Onde é que ele não está sendo plural?
E qual é o papel da imprensa?
Desde a redemocratização, a partir de Sarney, e quem teria compromisso efetivo com isso, que seria os governos de Fernando Henrique Cardoso, depois Lula e Dilma, eu acho que nós deveríamos ter debatido a regulamentação econômica da mídia. Qualquer país civilizado no mundo tem uma instituição que tem regras claras que determinam o que você pode ter. Você não pode ter tudo, ser dono de tudo, ter a opinião pública na mão. Os Estados Unidos têm, Inglaterra, Japão, Nova Zelândia, todos eles têm, a Europa toda tem. Eu me lembro que o Cade, na década de 1990, não deixou juntar duas pastas de dente (Kolynos e Colgate), ou duas cervejas (Brahma e Skol); se não é possível juntar pasta de dente e cerveja para não ter monopólio, como se permitir monopólio de informação. Essa é a discussão que Sérgio Motta, Ministro das Comunicações de Fernando Henrique, fez até a sexta, sétima minuta, e foi obrigado a “engavetar” por pressão política. Eu acho que a crise estrutural da política, a forma de veiculação das informações, esse estado de histeria que as pessoas estão, tem a ver com inexistência da pluralidade na veiculação da informação e não estamos falando só no eixo central do país, imagina isso por 5.700 municípios e 27 Estados.
A comunicação como um todo tem o poder de chegar em todo os lugares?
A TV aberta é o meio de massa que ainda chega a 99,9% dos brasileiros. Todos eles têm uma TV em casa.
As TVs, tanto as abertas quanto as fechadas, são disponibilizadas em qualquer bar e a discussão política está em todo lugar?
Isso é bacana, é a politização. Mas ela poderia ter sido feita de uma maneira não tão abrupta e não tão no meio do incêndio.
Como você vê a mídia impressa? Está no fim? Está se perdendo?
Nós estamos vivendo o fim da era de Gutemberg, que tem 500 anos, a era do papel e os primórdios da era digital. Não existe modelo de negócio que sustente essa nova era. Tanto que temos no eixo Rio, São Paulo, Brasília e Minas, nos últimos anos, 5.000 jornalistas desempregados. Você tem muita gente usando a internet, cerca de 100 milhões de usuários, 55 milhões a 75 milhões diários, e não tem dinheiro circulando. Você tem muita opinião e pouca investigação”.
Fonte: Jornal O Tempo
www.otempo.com.br/opinião/paulo-navarro/a-mídia-e-o-poder-1.1285564